quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

AS FUNÇÕES DAS CLASSES SOCIAISNA IDADE MÉDIA

 Clero: educação e saúde

Devido à sua condição sacral, o Clero era tido como a primeira das classes sociais, o fundamento da civilização: "Vós sois o sal da terra .... a luz do mundo" (Mt 5, 13-14). Qualquer pessoa, da nobreza ou da plebe, podia pertencer ao Clero e galgar todos os seus graus hierárquicos. Muitos Papas eram filhos de trabalhadores manuais, pairando acima de Reis e Imperadores da Cristandade.
Salle d'un hôpital du Moyen Age

Sala de um hospital da Idade Média

Além de sua missão própria de salvar as almas, o Clero tinha sob sua responsabilidade duas atividades que atualmente correspondem, em larga medida, ao Estado: a educação e a saúde pública.

A supervisão e, muitas vezes, a execução do ensino cabia ao Clero. Para ser professor particular era preciso licença eclesiástica, pois o Clero devia zelar pela ortodoxia do ensino. E também exercer diretamente essa tarefa de ensinar.

As despesas com a educação eram arcadas pelo Clero, sem qualquer auxílio por parte do Rei. Por isso era razoável que não pagasse imposto.

Tal responsabilidade pela educação se deveu ao fato de que, após as invasões dos bárbaros, os conventos eram os únicos lugares onde se sabia ler e escrever, depositários das obras que se salvaram das bibliotecas romanas. A partir desses conventos deu-se a expansão do ensino, tendo o Clero semeado escolas e universidades pela Europa ao longo da Idade Média. Quando esta chegou ao fim, a Europa estava alfabetizada, ao contrário do que dizem seus detratores. Várias das mais célebres universidades de hoje foram fundadas naquela época.

A outra atividade do Clero, velar pela saúde pública, também ficava inteiramente sob sua responsabilidade financeira. Os hospitais existentes eram mantidos pelo Clero ou pelas ordens femininas por ele dirigidas.

O Clero fundou muitos hospitais durante a Idade Média e os princípios da higiene no trato de enfermos e feridos começaram a ser praticados. A medicina moderna nasceu naqueles hospitais.

Para cumprir essa missão, o padre renunciava a tudo, inclusive à própria saúde. Muitas vezes tinha que morar em locais que abrigavam doentes portadores de moléstias contagiosas. O isolamento de tais doentes tornou-se uma prática comum na Idade Média, devido ao cuidado que o Clero a eles dispensava.

Nobreza: combater na guerra

Quanto à isenção de impostos para os nobres, é fácil refutar os argumentos freqüentemente alegados pelos revolucionários.

A nobreza era a classe militar, obrigada a lutar em tempo de guerra.

Os plebeus não eram obrigados a combater na época de guerra, a não ser que o contrato com o senhor o exigisse, dentro de certos limites de tempo e espaço. Assim, não lutavam durante o tempo das colheitas, nem deviam deslocar-se além de uma certa distância do lugar onde moravam. Também podiam engajar-se como mercenários, ganhando dinheiro com a guerra e enriquecendo com os saques.

O nobre era obrigado a combater, tendo a pagar o imposto do sangue, muito penoso naquela época, devido às precárias condições existentes para o tratamento adequado dos traumatismos e mutilações recebidos em combate.

Além disso, o senhor feudal era obrigado a exercer gratuitamente, em suas terras, as funções de prefeito, juiz e delegado de polícia. E podia ser punido pelo Rei, caso tais funções não fossem bem executadas.

Outra obrigação sua era a caça às feras daninhas à agricultura, de que a Europa estava cheia, como javalis, ursos e raposas. Com o passar do tempo essa caça foi sendo organizada como um esporte, mas de qualquer modo era um dever. E se a Europa ficou livre das feras foi porque os nobres cumpriram tal missão a eles atribuída.

Portanto, é razoável que não pagasse impostos quem tinha a seu cargo todas essas funções e precisava arcar com despesas para a luta armada, o combate aos bandidos e feras, a manutenção de estradas, pontes, cadeias, funcionários de justiça e de administração, etc.

Por outro lado, havia duas espécies de impostos. Um recaindo sobre as pessoas e as terras, que clérigos e nobres não pagavam. Outro sobre as mercadorias, pago por todos.

Povo ou Plebe: produção econômica

As funções mais lucrativas não eram as do nobre, mas as do comerciante e do industrial. Freqüentemente encontravam-se comerciantes cuja fortuna era tal, que emprestavam dinheiro aos Reis. Sem eles os monarcas não podiam fazer guerra. Eram mais ricos que muitíssimos nobres.

O comerciante não ia para a guerra, não era ferido ou mutilado, levava uma vida calma. A esta classe de produção econômica era cobrado imposto.

Atualmente a primeira classe social é a dos mais ricos. Naquele tempo era de si, a dos mais virtuosos, isto é, o Clero, que se entregava ao serviço de Deus. O plebeu mais rico tinha que se inclinar diante do clérigo mais pobre, o que é muito digno, muito razoável. Se o Clero e a nobreza desfrutavam privilégios, isso decorria de suas funções mais elevadas e mais sacrificadas. O que é natural, orgânico, justo.

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